O prestígio de um homem deveria ser medido através da sua capacidade de cuidar de outras pessoas, e isso o Sr. “Frederico Engel” sabia fazer muito bem
Gaúcho, descendente de agricultores alemães, tinha uma disposição incomum para cuidar da sua família, bem como dos seus hóspedes.
A sua primeira experiência no ramo receptivo foi o “Hotel Engelsburg” no Paraguai, mas é no lado argentino que começa a nossa aventura.
Atrás de novas oportunidades, o Sr. Frederico migrou com a sua família para Posadas, então a metrópole cultural e econômica da região, onde abriu uma pequena pensão.
E foi nessa pensão que hospedou o primeiro prefeito de Foz, o Sr. Jorge Schimmelpfeng…
Apesar da simplicidade, a sua vocação para a hotelaria chamou a atenção do prefeito, que fez um convite que mudaria a nossa história:
“Que tal abrir o primeiro hotel na recém-criada Vila Iguassu?”
É provável que tenham petiscado um delicioso dourado assado na região da “Costanera” (a Av. Schimmelpfeng deles), enquanto rolava uma resenha sobre as belezas da tríplice fronteira.
Curioso, o Sr. Engel veio conhecer as Cataratas e ficou impressionado com a sua beleza:
“Deixa pra mim”, deve ter dito…
Com muita dificuldade, tratou de reformar dois imóveis ao mesmo tempo (a matriz e uma filial ao lado das Cataratas), além de abrir a estrada que ligava o centro da cidade até as quedas.
Mas porque dois imóveis?
Para que seus hóspedes pudessem descansar após o longo trajeto de carroça até os saltos, e não dependessem tanto da estrada, que ficava intransitável em dias de chuva.*
No início não foi nada fácil…
Toda essa estrutura tinha CUSTOS!
A manutenção da estrada (e das carroças que trafegavam por ela) era dispendiosa, além do salário dos guardiões da filial nas Cataratas, entre outros custos.
Para piorar, havia a concorrência do hoteleiro argentino Sr. “Leandro Arrechea”, que abordava os turistas recém chegados de barco, dizendo que havia apenas um hotel na região, o dele.
E isso fez com que os hóspedes do Sr. Engel ficasssem cada vez mais escassos….
Mas os “taurinos” não se entregam fácil, força e perseverança são o seu principal traço, além de uma dose generosa de teimosia.
Foi quando o jogo começou a virar a favor do Brasil!
Alberto Santos Dumont, um dos maiores ídolos do seu tempo, chegou em Puerto Iguazú para visitar as Cataratas do lado argentino, a convite da Sra. Victória Aguirre.
Eufórico e cheio de esperanças, o Sr. Engel foi “voando” conversar com o amigo prefeito, para que convidasse o célebre inventor a visitar também o lado brasileiro das quedas.
Em um primeiro momento, o prefeito hesitou:
“O que uma celebridade como ele faria em uma cidade como a nossa?”
Mas foi convencido pelo otimismo de Engel e juntos foram ao “Gran Hotel” de propriedade do argentino (mala) conversar com o Dumont.
E deu bom
O pai da aviação ficou tão emocionado com a vista do lado brasileiro, que foi a Curitiba pedir ao governador a imediata desapropriação das terras de “Jesus Val”, em benefício de todos.**
Nascia, assim, o complexo turístico e hoteleiro de Foz do Iguaçu, o terceiro mais importante do país, e reconhecido mundialmente pela sua alta qualidade receptiva.
Engel, que em alemão significa “Anjo”, nunca recebeu de volta um centavo do que investiu…
Porém, realizou o sonho de que as Cataratas do Iguaçu fossem visitadas pelo mundo todo, mas pelo nosso lado, o lado pentacampeão
Baseado no livro: Frederico Engel – por Renato Rios Pruner.
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*O “Hotel Brasil” (matriz) ficava onde hoje é o “Banco Bradesco” na Av. Brasil, e o “Hotel dos Saltos” ao lado das Cataratas, onde atualmente é o “Hotel Belmond” (Foto).
**A desapropriação das terras onde estão as Cataratas foi feita pelo Decreto Estadual 653 de 1916, que abriu o caminho para a criação do Parque Nacional do Iguaçu.


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